“É claro que todo o particular que persegue um homem, seu irmão, porque ele não tem a sua opinião, é um monstro.”
Voltaire – Dicionário Filosófico, 1764.
Certo dia na faculdade, estávamos estudando os textos de John Locke (1632/1704) filósofo inglês e precursor do liberalismo, até então um herói para mim, o cara era foda! Escreveu um livro inteiro pensando em todas as perguntas que se poderia fazer a ele sobre conhecimento humano, hoje superamos (De certa maneira) o conflito entre empiristas e racionalistas, mas se fosse para escolher um lado, lá estaria eu com uma camisa do Locke na militância empirista.
[Nessa época havia um conflito de correntes filosóficas sobre a questão do conhecimento humano, resumindo grosseiramente tratava-se do seguinte: Enquanto os Racionalistas defendiam que o conhecimento vem da mente sobre a realidade os empiristas eram do contra, o conhecimento é fruto da realidade sobre a mente, nascemos como uma folha em branco que lentamente é preenchida de acordo com as experiências, ou seja, “Nada existe no intelecto que já não exista nos sentidos” uma vez que o “todo o conhecimento depende da experiência, mas também está por ela limitado”]
Acontece que nesse dia em especial não estudávamos a questão do conhecimento e sim, um livro dele chamado “Carta sobre a tolerância” onde ele dizia basicamente que devemos “tolerar” o próximo, respeitar as diferenças e diversidade religiosa por exemplo. Até que ele me solta que todos merecem tolerância menos o ateu, pois ele não está vinculado a princípios morais para se poder confiar nele. Aquilo foi uma facada no coração para mim, logo você Locke? Mas isso serviu para eu me acostumar aos altos e baixos do mundo filosófico.
[Não me lembro exatamente, mas acho que ele exclui católicos por seguirem a um estrangeiro que seria o Papa e por sua intolerância para com as demais religiões.]
As pessoas insistem em associar princípios morais com religião, um erro muito grave porque basta alguma reflexão e podemos perceber que uma coisa não está inteiramente associada à outra e em alguns casos até são antagonistas como? Leia levíticos, o terceiro livro da Bíblia dentro do antigo testamento que tem teor “legislativo” onde fala que devemos matar homossexuais apedrejados ou que ter escravos é algo aceitável, ou semelhante ao alcorão onde Javé diz que tu deves matar quem não acredita nele, o “único e verdadeiro deus”, (Não vou deixar onde especificamente, pois acho muito produtivo que se leia ele todo, é hilário) Lembrando se que essas leis são supostamente escritas por Moises, mas definidas por Javé. Questões sutis que nos remetem ao simples fato de que as pessoas dizem acreditar, mas não sabem e nem lêem sua bíblia (Foco a questão cristã por ser nossa tendência cultural).
Então o ateu é um cara predisposto a corrupção, violência e maldade por não acreditar em deus? Sabemos que não é bem assim, conhecemos os casos dos padres pedófilos, pastores e médiuns que metem a mão no dinheiro de quem não têm tanto assim para jogar fora, casos que são clichês e viram piada de tão comuns (Evidentemente não vamos generalizar sabemos também que há pessoas de respeito e que nada tem haver com eventos assim e acabam sendo prejudicados pela reputação de seus companheiros de fé seja qual for), a questão é simples, ter religião não quer dizer que as pessoas sejam mais honestas ou “boas” do que quem não tem, parece obvio, mas muitas vezes não é.
A essa altura algumas pessoas pensam: E quantas vidas a religião salva? Por Zeus! Ainda se pensa em questionar algo assim? Eu diria: Quantas vidas a religião tira olhando simplesmente para o passado (Cruzadas, inquisição etc.) ou mesmo para nossa atualidade e os homens bombas de Alá, ah... Mas sem tocar nesses assuntos velhos e manjados, vamos olhar outra perspectiva, as pessoas não matam as outras porque este escrito no livrinho sagrado não, nós criamos regras sociais que condenam quem pratica um ato dessa envergadura, daí o contratual ismo dos homens, mesmo assim acontece, mas acontece também de um individuo religioso explodir em raiva e matar o irmão, acontece também!
Cristo trouxe concepções admiráveis de conduta humana, mas não foi o único, antes dele muita gente já tinha boas motivações olhe os filósofos gregos que se baseavam em reflexões para mostrar que o homem devia agir bem, não por imposição de uma entidade onipotente com sua justiça, mas por pura reflexão de sua conduta e existência, o que para mim é muito mais admirável, ser “bom” por que seu deus que te ama (Mas vai te condenar por toda eternidade se não fizer as coisas do jeito dele) diz que é assim que deve ser não é algo muito honesto
.
[Falando em cristo, não é contraditório ele dizer que do antigo testamento não se deve mudar uma vírgula e depois salvar Madalena dos homens que queria castigar-lhe? Afinal eles só estavam seguindo os mandamentos de Javé o “único e verdadeiro deus”, diga-se de passagem...]
Aff... Essas coisas me soam tão obvias que vejo com certa estranheza escrever tanto sobre isso, Mas como disse , escreverei aqui eventos que estejam associados ao meu cotidiano e basicamente relacionados ao tema ateísta.
Fico por aqui;
Abraço
“As novas opiniões são sempre suspeitas e geralmente opostas, por nenhum outro motivo além do fato de ainda não serem comum”.
John Locke
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