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terça-feira, 8 de setembro de 2020

Não seja maricas

 Se há algo frágil, definitivamente é o ego masculino em relação a sexualidade. Mas isso é uma construção cultural.



Desde de criança, o rapaz é cativado a ser macho, já lhe é imbuída a necessidade de ostentar a macheza, ele tem que demonstrar interesse no sexo oposto, ser forte, não chorar, etc. Crianças são crianças, haverá muito tempo para elas se descobrirem, mas por que os adultos as sexualizam? Por que a necessidade de arranjar a namoradinha do filho quando ele nem sabe falar ainda?

Lembro me que passei parte da minha vida juvenil conflitando com a masculinidade tóxica, se uma menina tivesse interesse em mim, eu tinha que ficar com ela, mesmo que não fosse recíproco, pelo simples fato de que os demais meninos não iriam entender que eu não queria por não gostar dela, mas iriam interpretar aquilo como “viadagem” ou seja, se eu não ficar com a moça é porque eu era gay.

E se hoje em dia ainda há preconceito sexual, bem sabemos que era muito pior no passado, ao ponto de que quem era homossexual dificilmente se assumia como tal, com receio de encarar a sociedade com os seus bons e velhos valores. Logo, ser taxado de homossexual estruturou-se como uma das ofensas mais serias que se pode fazer a um homem.

E assim a gente cresce, com a necessidade de provar que somos machos! Se passa uma mulher na minha frente, eu tenho que olhar e talvez até mexer para mostrar para o meus amigos que eu gosto daquilo ali. Ostentar quantas “peguei” e o que fiz com elas é padronizado como atitude comum de macho e se você não o faz, é por que com certeza você é gay ...

Falando assim, fica fácil perceber o quanto idiota isso parece não é mesmo? Mas está aí, você sabe, você testemunha, ou na pior da hipóteses, pratica.

Podemos desenvolver duas reflexões nessa linha: A primeira é que a cobrança da masculinidade definitivamente não é saudável, para começar porque ele inferioriza a mulher como um objeto, rotula o conceito do que é ser e como deve agir o homem levando a ideias estúpidas como: Pensar em amor e sentimentos é coisa de mulher ou de “maricas”, homem pensa é em sexo! E isso se reflete na sociedade, não do jeito que o conservadores gostariam, de homem na liderança provendo o lar e estruturando a família. Mas como famílias desestruturadas, mães solteiras porque o homem tem que pegar todas, casamentos falidos pela infidelidade de corrente da ideia de que homem pode fazer isso, de que é comum e normal, homens que são gays, mas vivem mentiras, Feminicídio! Podemos levantar vários contextos infelizes que podem ou estão relacionados com o simples fato de existir toda uma cultura voltada para a masculinidade tóxica.

A segunda, é que: E se eu fosse homossexual? O que isso importaria? O que isso faria de diferença na sua vida? Por que encarar a orientação sexual de alguém como motivo de ofensa? Se alguém me confunde ou supõe que eu seja homossexual, isso não é motivo para eu me ofender.

Mas a masculinidade tóxica está ai, ela promove o preconceito, a partir do momento que o homem não pode aceitar a homossexualidade, ele a antagoniza, sente a necessidade de agredi-la para provar-se macho.

O que nos leva a movimentos completamente imbecis como “Orgulho de ser hétero”.

Toda vez que me deparo com sujeitos nessa linha me vem à cabeça que: É um desafio tão grande assim ser hétero para o indivíduo que ele deve orgulhar-se? Eu vejo como se o sujeito orgulha-se de vencer o impulso íntimo de querer se atracar com o amigo malhado da academia ... 

Ser hétero não é motivo de orgulho para mim, simplesmente por não haver dificuldade nenhuma em me assumir como tal, agora ser gay e encarar todas as consequências e preconceitos que a vida vai trazer, esse sim tem que ter orgulho ...

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

"Fear of Missing Out”




Devido ao desgaste mental que senti diante de constantes debates nas redes sociais, resolvi dar um tempo, continuei olhando, curtindo uma coisa ali outra aqui, mas diminui radicalmente a minha atividade online (Mesmo porque, o trabalho me obrigando a estar online frequentemente me deu um sentimento de sobrecarga).

Eu me deleguei a tarefa de combater mentiras e desinformação (reflexo do meu ofício como professor de filosofia) mas me senti cansado, os debates políticos e ideológicos se estenderam aos contextos mais diferenciados. Até em fóruns de jogos de vídeo game, temos debates sobre “lacração”, “mimimi” e politicamente correto.

Um jogo com protagonista lésbica é acusando de querer “lacrar”, Quando você joga, vê que a orientação sexual da personagem não faz diferença alguma, Contudo, mesmo explicando isso para alguém de fora, ela insiste na crítica ...

O mesmo acontece em assuntos de imensa importância na atualidade como a Pandemia, as discussões se tornaram irrelevantes ao passo que um grupo de pessoas está disposta a negar toda a realidade (a ciência, os fatos etc) para insistir em uma agenda ideológica, como?

Você está diante de um fato, mas se agenda ideológica de um indivíduo o condiciona a não aceitar esse fato, ele passa a militar contra aquilo, disseminando mentiras (fakenews) e desinformação, geralmente com a ironia e deboche dos famosos “memes”.

Você pode desmascarar o argumento, a mentira etc, que vai se deparar com uma nova postagem falando a mesma coisa. Tudo isso se torna extremamente cansativo, essa luta contra a cegueira que é o viés de confirmação (Tendência de aceitar e acreditar somente naquilo que reafirma suas crenças iniciais, um erro de raciocínio indutivo).

E assim, eu dei um tempo, o que me levou a viver novamente o fenômeno do “Fear of Missing Out”, que eu desconhecida mas já deduzia. Pode ser traduzido como “medo de estar perdendo algo” é o sentimento de estar alienado e perdido por não estar participando da vida conectada das redes.

Se eu não posto nada, os algoritmos das redes me deixam de lado, (Isso já acontece no esquema de bolhas sociais) o que me levou a questão filosófica do “sentimento de não existir” por não estar ativo nas redes.

As pessoas desejam feliz aniversario porque as redes as lembram, mas não necessariamente porque a pessoa se importa, daí ser muito comum pessoas postarem contagem regressiva e “parabéns para mim” invocando a atenção, o sentimento de existir e estar conectado, uma carência existencial triste que pelo visto é mais uma faceta dos imensos prejuízos psicológicos que celulares e as redes sócias desencadearam.

Veja que as pessoas tendem a ser bem mais ativas quando estão solteiras, mas ao passo que entram em um relacionamento, diminuem sua atividade online pois passou a ter atenção particular? Impressão minha?

Se outrora as pessoas já lutavam para criar uma identidade, se sentirem vivas, especiais, diferentes. Hoje em dia podemos dizer que houve um “upgrate” das crises existenciais. Afinal, percebe-se que essa geração está marcada por crises de ansiedade, depressão etc, e se cada vez mais, estamos dependentes dessas mesmas redes para trabalho e o dia a dia, como se curar? 




Sugestão de filme: Into the wild (Brasil: Na Natureza Selvagem)



Sobre os desfechos negativos dessa tecnologia toda, vejam:







quarta-feira, 22 de julho de 2020

Como ser feliz?




Todo mundo quer ser feliz, se sentir realizado, pleno, contente com a própria existência. Tanto que Aristóteles filósofo grego concluiu que toda ação humana aspira ao bem maior da felicidade.

O “sentido da vida” é um tema recorrente nas reflexões filosóficas, mas não precisa ir nos meios intelectuais ou eruditos para se deparar com tal temática, ela está ai o tempo todo com você, comigo, a cada decisão, nas mais simples como “O que fazer hoje?” ou as mais complexas: “o que eu quero fazer da minha vida?”

Para Soren Kierkegaard (1813-1855), o ser humano está em um dos “Estágios da vida” que explicam a nossa “angustia” e tem a solução, vejamos:

I - Vida Estética: Simbolizado pelo “Dom Juan”, o estágio estético mostra o homem que busca a máxima satisfação do presente, procurando tornar único cada instante, abomina o monótono. Mas o “instante” é fugaz, levando ao tédio e ao desespero.

II – Vida Ética: Contrapondo ao homem estético (Dom Juan), o homem ético é representado pelo “Bom marido”, é aquele que escolhe o quer ser e se impõe disciplina para tanto. Mas ser fiel, respeitoso etc. Ainda assim, não dá a paz de espírito, apenas elimina alguns problemas mantendo o homem ainda com angustia, ou melhor, “desesperado”.

III – Vida religiosa: somente o estágio religioso dá ao homem o significado ultimo da existência. Ou seja, para Kierkegaard somente na fé, com Deus você será feliz, mas você encontra pessoas que vão te receitar justamente a ponderação da vida ética ou a intensidade da vida estética ...

Mas será que a vida tem uma receita de bolo? Uma resposta simples assim? Faça tal coisa e se realize!

Aquelas pessoas que eventualmente criticam uma conduta tua, como não querer sair, ou não gostar de uma piscina por exemplo, Essa pessoa é plenamente feliz para estar te dando esse conselho?

Digo isso pois certa vez, no ultimo horário de aula de uma sexta feira a noite, um aluno me perguntou o que eu ia fazer depois da aula. Afinal, “sextou”. Eu disse que só queria um banho e jogar um vídeo game. Meu aluno disse que eu tinha que "viver " (risos)

Eu perguntei o que ele ia fazer para “viver” e a resposta era beber com uns amigos na praça. Retruquei que, ele ia estar feliz lá e eu feliz em casa e está tudo bem. Mas o que me impressionou nesse caso, é que a pessoa em questão vive com crises existências, em depressão, mas se sentiu com moral de me dizer o que eu devo fazer para “viver”.

O mesmo vale para a imagem em questão (Tema dessa publicação) , por que alguém vai sentir pena da pessoa por ela não ter “vícios”? Do ponto de vista de várias vertentes, “triste” é a pessoa depender de vícios para se sentir pleno.

Uma coisa pode ser boa para você, te fazer feliz, te dar paz, mas isso não significa que terá o mesmo efeito no outro. Obviamente, você pode querer tentar repassar a sua ideia, mas será que você está tão bem assim para ter moral de ditar alguma regra ou receita de bolo da felicidade para o próximo, ao ponto de critica-lo?

Todo mundo sabe essa resposta ...

Então, Como ser feliz? Cada um tem que encontrar a sua resposta ...




Aquele abraço ...





PS: Sabe o que funciona comigo? isso aqui:

 E isso:



terça-feira, 26 de maio de 2020

Toda opinião merece respeito?



OK, o título já deve estar te incomodando, afinal sempre fomos educados a respeitar o próximo, isso inclui também a opinião do próximo. E realmente, devemos respeitar as pessoas e suas opiniões. Contudo, há um limite para tal e gostaria que você me acompanhasse nesse raciocínio ...


Não é de hoje, que há um conflito e distinção sobre a "opinião" e “saber verdadeiro”. Os gregos antigos já tinham e refletiam sobre essa dicotomia. Por volta do século V a.C, surgiu na Grécia um grupo de pensadores que passaram a “comercializar a filosofia”, ou seja, vendiam o “conhecimento”. A base para isso era o “relativismo”. Para eles existia somente opiniões e nenhuma verdade absoluta.

Tal concepção faz sentido, afinal, uma fruta é gostosa ou não? As pessoas vão ter opiniões diferentes sobre isso, quem gosta ou não de daquela fruta, estará falando a verdade mesmo que sejam ideias contrarias.



Mas se só existem opiniões, então não há necessidade de buscar um “conhecimento verdadeiro”? Vejamos:

Mesmo entre os Sofistas, a busca por um conhecimento mais profundo era incentivada. O mais famoso deles, Protágoras (490/415 a.C), afirmava tal necessidade uma vez que mesmo não havendo uma “verdade absoluta”, era necessário distinguir entre opiniões mais ou menos uteis, “melhores” ou “piores”.

Então nos deparamos com a questão: Nem toda opinião tem o mesmo valor, pois o que vai pesar no final das contas é o grau de conhecimento do interlocutor. Como assim? Imagine que você passe mal entre seus amigos, um é da área da saúde (enfermeiro, médico etc) o outro é um mecânico inteligentíssimo, qual dos dois terá a opinião mais correta sobre como proceder diante de seu mal-estar?

Bem sabemos que é aquele que tem o conhecimento mais profundo da saúde nesse contexto. (Poderia acontecer, mas seria muito pouco improvável que o mecânico tivesse uma solução mais correta do que o médico).

Óbvio que não podemos desvalorizar o conhecimento de ninguém, devemos sim respeitar a opinião das pessoas, mas quando a opinião sem embasamento algum vai contra um saber mais metódico, ela não tem poder. Quando uma opinião calcada em “achismos” faz frente aos fatos ou dados concretos, ela não pode superar o que é “consistente” com a realidade maior, no máximo, pode ser usada para questionamento e revisão.


(O termo Doxa vem do grego, significa opinião ou simplesmente crença comum, ele se opõe à Episteme, que por sua vez seria o conhecimento “verdadeiro” ou basicamente um conhecimento metodológico, calcando e evidencias e até mesmo “demonstrável”).

Assim, Devemos compreender que o mundo é  mais do que eu acho ... O mundo não é o reflexo só do que eu vejo.


Nós temos direito de ter opinião, mas isso não deve ser limitado a invocar o “respeito” para permanecer no erro.
Sim! Eu posso estar errado na minha opinião sobre um tema, cabe o debate honesto e a reflexão profunda para rever isso. Eu não tenho que respeitar sua opinião se você está errado e se no erro você fere ideologicamente ou fisicamente o outro. Ou vai me dizer que por exemplo, “racismo” é uma opinião, portanto, a pessoa tem direito de ser racista?

Questione as próprias convicções ...

Só assim melhoramos nossos conceitos e poderemos ter uma opinião realmente válida das coisas.


domingo, 29 de março de 2020

Não adianta de nada ser crítico só quando te convém




Como professor eu sempre ensinei ao meus educandos que deveriam questionar e terem uma postura crítica, principalmente diante das informações da mídia em geral.

Aparentemente, nos últimos dias deparei me com um surto sobre esse tema.  A militância contra a TV ganhou força nas redes sociais e era para eu estar muito contente com a postura “crítica” das pessoas certo?

Infelizmente não, pois não se trata de uma “conscientização honesta”, mas pura e simplesmente manipulação de massa (Dentro de sua bolha social os indivíduos são convocados a atacarem qualquer ameaça às suas ideologias). As pessoas se mostram críticas à mídia apenas quando ela contraria os seus “mitos”, as suas convicções e principalmente seus políticos/bandidos de estimação.

Um exemplo simples disso, é sátira ou parodia política. Desde que me entendo por gente, vejo programas de TV onde aparecem atores imitando os presidentes, em uma ridicularização hilária e com fundo de crítica social.

O engraçado era que todos riam e continuam rindo ainda hoje com isso, exceto quando a piada é com o SEU político de estimação, hipocrisia é o que chama?

Estamos diante de um dos eventos mais marcantes dessa geração, uma olimpíada foi cancelada, Sabe qual foi o outro evento que fez isso?  Uma guerra mundial! E as pessoas acham mesmo que a televisão não iriam abordar incessantemente esse assunto? Inclusive no sentido de prevenção!

Se superarmos essa fase, com certeza se deve ao esforço individual que cada um adotou (Pelo menos de quem entendeu a gravidade do momento). A informação nos permitiu tomar medidas de precaução.

Devemos ser críticos em relação à informação, mas isso não pode ser tendencioso. Não adianta de nada ser crítico só quando te convém ... 

Caso contrário, você não está livre da manipulação, é apenas extensão dela.