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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Na moda do desapego




Reza a lenda (ou melhor, O mito grego) que os seres humanos eram, a princípio, grudados entre si, sento portanto um só ser (Duas cabeças, quatro braços etc). Contudo, Zeus nos partiu ao meio e nos levou a uma condição de busca pela nossa outra metade.
Tal relato milenar explicava para o sujeito antigo porque queremos tanto alguém, a tal outra metade da laranja, a alma gêmea etc.

E na história, houve períodos em que o amor era a inspiração dos poetas, o sofrimento da paixão era romantizado. Mas os tempos são novos, são velozes ... “Líquidos” como dizia o simpático Zygmunt Bauman.

Muitos veem essa angustia como ultrapassada, pois a modernidade que foca o “indivíduo”, lhe convoca a realização pessoal e certo “desapego” se tratando de amor.

Não há nada errado com isso. O desapego é bom, o amor próprio é um ideal, afinal como amar alguém senão amamos a nós mesmos? Qualquer tentativa de um relacionamento que esteja ancorado na carência e na incompletude tende a ser frustrante.

Mas, talvez toda essa condição, tenha gerado a “moda do desapego”, como se as relações fossem um jogo onde quem se importa menos “ganha”. Afinal, a modernidade lhe deu o “poder” de não se esforçar muito para algo dar certo.

Aquela moça ou rapaz bonito, quando se veem em um relacionamento que não é perfeito ou “ideal”, facilmente podem migrar para outro na busca dessa “perfeição”.  Aquele amigo te chateou? Ora! Que tal acreditar naquela ilusão de mais de mil amigos do Facebook?

Se como eu você tem mais de trinta, lembra-te de sua juventude, quando você poderia se apaixonar com alguém na rua, mas provavelmente nunca mais veria a pessoa. Vai me dizer que só eu era bobo assim? (risos). Hoje, a conectividade deixa as pessoas absurdamente mais próximas e antagonicamente distantes ...

Ninguém completa ninguém, mas podemos ter uma agradável companhia nessa jornada existencial. Porém, a banalização do “desapego” no fim da história, contribui é para que cada vez mais as pessoas se sintam sozinhas ...

Outrora as pessoas sofriam tanto por amor que se matavam, a cultura era marcada pela exaltação da realização do amor e consequentemente da felicidade. Nesse sentido, estamos bem melhor ao entendermos que a felicidade é uma condição pessoal e pode estar “ou não” na realização do amor.

Contudo, a banalização do desapego pode nos transformar naquilo em que todos temos repulsa, pessoas egocêntricas que não se importam com nada ou ninguém além de si mesmas.

“Mas eu não vou sofrer com quem não merece!”

Calma! É justo! Mas quantas pessoas do bem podemos estar perdendo ou deixando de ajudar por não querermos dar alguma importância? Percebeu que do tema amor chegamos a qualquer tipo de relação?

Então, que tal mandar uma mensagem para alguém que tu acha que te esqueceu? Se importar não é fraqueza, hoje em dia mais do que nunca, a gente tem que ser muito forte para demonstrar que se importa ...

Na moda do desapego, eu sigo promovendo amor ...