Talvez você já tenha sido
convidado a refletir sobre quem é você, sobre como se define subjetivamente ou
até mesmo em um sentido maior, sobre o que é o ser humano e isso o levou a
pensar no que você realmente é.
Em tal questionamento temos
pessoas que rapidamente começam a descrever características peculiares em uma
tentativa de esculpir sua personalidade, seu “eu”. Enquanto outras entram em um
estado introspectivo por não acharem simples fazerem esse levantamento e
explicar exatamente o que as torna quem são.
No primeiro grupo de pessoas,
temos a ilusão de que se possa reduzir qualquer pessoa a um grupo de adjetivos
simplórios que muitas vezes nem elas mesmas têm certeza de possuir, “Eu sou uma
pessoa honesta e sincera”, será que você é tão verdadeiro assim ao ponto de
considerar isso uma marca específica de sua personalidade?
Já no segundo grupo de pessoas
temos uma postura mais lúcida, de que talvez seja bem complicado reduzir uma
pessoa a uma lista de característica. Isso é uma constatação de que talvez o
“eu” seja uma ilusão.
Filosofias muito antigas já
promoveram essa ideia, no Budismo por exemplo a constatação de que estamos em
constante transformação é a base da ideia de que não temos como dizer o que um
a pessoa é, pois embora as convenções sociais (principalmente religiosas)
postularam que existe uma “essência” ou alma, no fundo somos apenas um conjunto
de elementos em transformação. Nosso corpo, nossas ideias, as sensações e
percepções estão em constante mudança. Logo, o “eu” é uma ilusão.
Mas deixando Buda e a polêmica
reflexão teológica que pode gerar de lado, realmente mudamos muito com o tempo
o que já é a marca de uma inconstância do “eu”, essa “coisa” por detrás dos
seus olhos não só sofreu transformações com o passar dos anos (mesmo imperceptíveis)
como ela é bem mais do que características que os outros lhe atribuem, ou que
você mesmo acredita possuir.
Voltando ao exemplo, uma pessoa
não é 100% honesta o tempo todo, afinal, todos nós nos deparamos com situações em
que a honestidade pode vir a ser uma grosseria perfeitamente evitável e optamos
por não falar a verdade, só aí ela já deveria reconhecer a inconstância de se
enquadrar, talvez assumir que é alguém que tenta ser o mais honesto possível.
Outra pessoa considerada extremamente pacífica não está a salva de um surto de
violência ao passo que outro ser considerado agressivo pode demonstrar
surpreendente certa empatia e benevolência quando todos esperariam o oposto
dela.
Somos tão suscetíveis às
situações ao nosso entorno que qualquer sustentação de um “eu” fixo cai por
terra, afinal, posso ser uma pessoa muito calma, mas em um determinado momento
posso estar muito nervoso e agir em contradição com o que esperam de mim ou
melhor, com a ideia de pessoa que criaram de mim.
Podemos ter uma ideia de quem são
as pessoas, mas na verdade é apenas uma ilusão, pois somos escravos de nossas
percepções em relação a elas e eventualmente nos surpreendemos quando elas não
agem de acordo com o que esperamos delas.
Talvez o mais perto da construção
do eu seja realmente essa busca por adjetivos simplistas, mas veja que loucura
é pensar sobre isso: Esse “eu” que vos escreve, pode ser descrito como um
sujeito bonito (Pelo menos para minha mãe ok?) Mas as características físicas
são extremamente transitórias, de um físico atlético posso em semanas entrar em
um aspecto sedentário (Se você passou dos trinta sabe do que estou falando rs).
Então quem sabe, esse “eu” seja o
conjunto de ideias que acredito, mas da mesma maneira que meu cabelo cai, eu
posso mudar de opinião ou mesmo de ideologia complementarmente!
Então quem sabe eu seja um
conjunto de minhas memórias? Faria sentido, mas e aquelas pessoas que possuem
alguma doença que as fazem esquecer suas experiencias de vida deixam de ser
quem são por terem novas memórias?
Refletir sobre o que somos pode
ser uma tarefa angustiante pelo simples fato de que quanto mais pensamos, menos
é possível descrever o que realmente se é.
E então? Quem é você?
(Marcos A. Faria)